Sunday, February 3, 2008

Balas sobre a Broadway

Em 4 anos, música, nomes, títulos, ideias e imagens ligadas a imagens, re-edits em vídeo, cartões com números, coisas. Disorder são 2m, dexter e Zé Pedro Moura, mas também é o nome da noite em que, juntos, procuram uma relação com o público que possa significar muito mais do que apenas passar discos e misturar imagens de forma mais ou menos aleatória.

Na maioria das noites de clube em que coexistem música e imagens, estas são decoração apenas útil para estimular o olhar enquanto se passa de um copo a um beijo ou de uma música para outra. Mas Disorder fazem isso como ninguém. O que mostram mais, então? Cruzam referências com princípio, meio e fim, no fundo uma abordagem educacional para as pessoas que fazem a escola nocturna e se sentem bem com estímulos adicionais. Não acima das noções de erudito ou popular mas a absorver e transmitir todo o entusiasmo que o melhor de ambos os mundos tem para oferecer. A importância do que se referencia é relativa. Não supérflua,
mas relativa: quando Christopher Reeve morreu passaram excertos de «Superman», o filme de 1978, com «O Superman» (Laurie Anderson, 1981) remisturado por M.A.N.D.Y. em 2005; usaram-se clássicos da BD, como Quimby The Mouse (Chris Ware) no vídeo para «Mickey Mouse Mother****er» (Mocky); Tom of Finland no «Rocker» de Alter Ego; cartazes construtivistas russos para assinalar o 1º de Maio (com «Revolution909» de Daft Punk). Imagens de Gene Tierney (fez o papel de Laura no filme de Otto Preminger com o mesmo nome) para «Laura» dos Scissor Sisters.

A boda do príncipe das Astúrias + Letizia foi assinalada com sinos de catedral e letras tipo convite de casamento. «(We Don't Need This) Fascist Groove Thang» (Heaven 17) sobre imagens do funeral de Ronald Reagan em 2004. Porquê? Heaven 17 escreveram a canção em 1981 como comentário à eleição de Reagan. Não resistir à oportunidade de passar o infame vídeo de Paris Hilton sob o pretexto de existir um tema com o seu nome (MU «Paris Hilton»). E ainda a piéce de résistance: abertura da secção Disorder no 6ª aniversário do Lux com «Apocalypse Now» e a célebre cena do ataque dos helicópteros com a «Cavalgada Das Valquírias» (Wagner) - ruídos ensurdecedores de helicópteros e explosões (tudo montado em estúdio).

É habitual, como sinal de respeito, começar sequências com muitas imagens do mesmo autor (ou roubadas a esse autor), Disorder presents... with... by... etc. e terminar as noites com créditos finais e The End como nos filmes. Brincadeiras, piadas internas, recursos para produzir histórias. Nem sempre eram só os amigos que reparavam: "Queixas de que na segunda festa das saias (Janeiro 2005) estávamos muito gay porque tínhamos imagens de gajos com kilts captadas de baixo com um sticker Disorder a mover-se sobre as partes privadas e imagens de gajos aos beijos (tudo tirado de «Raspberry Reich», Bruce la Bruce), outro a simular um broche a uma Uzi + outra imagem suspeita qualquer." Depois, na mesma família dos stickers por baixo dos kilts, houve stickers por cima das mamas das raparigas fotografadas por Terry Richardson num vídeo criado de propósito para «Filthy, Gorgeous» (Scissor Sisters, Paper Faces vocal edit). Uu.

Foi feita uma lista de filmes para exibir na íntegra no início de algumas noites, a série começou com o concerto dos Sonic Youth no Campo Pequeno, filmado em 1993 por José Pinheiro.
As referências de Disorder dizem mais sobre a noite do que o curriculum das pessoas que a fazem. Neste contexto, ninguém precisa de saber muito sobre 2m, dexter e Zé Pedro Moura + colaboradores. Outras coisas: «Burning Down» (Tiga) com imagens de meteoritos a atingirem Nova Iorque e Paris («Armageddon») e o lançamento de 10.000 notas Disorder de 5 euros sobre as pessoas na pista na passagem de ano 2004-05. Mais: "Chegámos a usar braçadeiras pretas quando Helmut Newton espetou o seu Cadillac contra o muro do Chateau Marmont, em Hollywood, mais homenagens quando Richard Avedon morreu (best of da obra dele) e um vídeo com o último desfile do Tom Ford antes de abandonar a Gucci. Por cima as palavras "Goodbye Tom" e a música de Purple Flash, «We Can Make It». E quando Janet Leigh, a vítima da célebre cena do chuveiro de «Psico» (Alfred Hitchcock), morre, era irresistível não a mostrar, em cenas do mesmo filme, a guiar para o seu destino ao som de «Go» (Moby)."

Fizeram t-shirts em Braille, copiaram uma t-shirt Helmut Lang e a t-shirt amarela que aparece no «Elephant» de Gus Van Sant, customizaram camisas com a insígnia Disorder (escolheram um D que ficasse bem). Pins com Macaulay Culkin, príncipe Harry e Drew Barrymore, como símbolos de imagens inocentes tornadas amargas, todos eles sujaram a imagem inicial de crianças queridas, como sabe quem acompanha a cultura geral pop. Em tempos, houve também uma lista de vídeos preparados para músicas específicas. Foram feitos cartões numerados para todos os vídeos da lista.

Os DJs no palco (quando tocavam no palco da discoteca do Lux) levantavam alto o cartão com o número do vídeo correspondente à música que iriam tocar dentro de minutos, para que o VJ tivesse tempo de preparar o vídeo e o disparasse em sincronia com a música. Disparar: disparar sobre alguém era o sentimento mais adequado no final de algumas noites. É muito cansativo. E mais?

José António Moura
com a colaboração de Miguel Maurício

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